Não deixa de ser irônico que as quadras de terra batida tenham sido ideia de dois campeões de Wimbledon, os irmãos Renshaw. Todo mundo sabe que o tênis como conhecemos hoje se formatou durante a disputa do primeiro torneio de Wimbledon, quando se padronizaram quadras, rede, regras e contagem. Pouquíssima coisa mudou desde 1877.
Segundo os próprios franceses, os Renshaw costumavam passar férias na Riviera e construíram quadras de grama em Cannes, mas o clima muito mais quente desgastava rapidamente o piso. Em 1880, eles tentaram uma solução: sobre a terra, colocaram um pó que vinha da moagem de panelas de barro defeituosas que eram feitas em Vallauris. O sucesso foi tão grande que 104 quadras foram construídas em cerca de dois anos somente em Cannes, porém aos poucos o pó de tijolo substituiu o de Vallauris, que não tinha escala suficiente para a demanda.
As vantagens eram enormes. Ao contrário da grama, não era preciso regar, cortar nem usar fertilizantes. Em 1909, uma empresa britânica achou uma forma de secar mais rapidamente o piso de terra quando molhado – algo que então chegava a demorar dois dias -, usando areia misturada com o tijolo, e com isso o piso se espalhou mais rapidamente por Espanha e Itália. O pó na França vinha das pedreiras de Saint-Maximin, no Oise, que até hoje fornecessem a matéria prima para as quadras de Roland Garros.
A técnica chegou aos Estados Unidos até que, em 1928, o engenheiro H. A. Robinson criou um sistema próprio que garantia um piso que secava com muita rapidez com o uso de pó de basalto, uma rocha vulcânica, e a esse novo piso se deu o nome de Har-tru (Har são as iniciais do nome do engenheiro e tru uma corruptela de ‘true’, verdadeiro, pela cor ser mais próxima da grama).
Muito se investiu na tecnologia para se aperfeiçoar as quadras de terra, que já na metade dos anos 50 consumiam 85% menos água para irrigação e assim reduziu-se o tempo de manutenção em até 40%. Por fim, surgiu a quadra de argila sintética, onde a base é um tapete emborrachado ou uma laje microporosa. A dificuldade é o alto custo.
Há também diferença no uso de argila, o que não ocorre na França e na Itália, onde se opta pelo calcário. Daí o tom por vezes bem mais escuro de algumas superfícies.
Fato curioso, apenas 13% de todas as quadras de tênis na França hoje são de saibro, em contraste com os 83% dos anos 1960. Ao mesmo tempo, países de pouca tradição, como Inglaterra, Austrália e Estados Unidos, têm optado por iniciar a formação de seus tenistas sobre a terra para fortalecer a biomecânica dos golpes de base.